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SÃO GABRIEL E O CASO ISOLADO NÚMERO...?



Alceu Pierreti Barra, 69 anos, assassinado brutalmente no interior de sua residência por um Policial Militar na cidade de Alvorada/RS aos olhares coniventes de seus pares em uma confraternização do batalhão.


Everton Barbosa dos Santos, 25 anos, alvejado em “troca de tiros” com a polícia na periferia de Porto Alegre/RS, ainda que na sua mão não tenha sido encontrado qualquer resíduo de pólvora e testemunhas tenham relatado estar rendido.


Gabriel Augusto Hoytil de Araujo, 19 anos, morto com um tiro na cabeça após policiais confundirem uma marmita com uma arma de fogo na Zona Sul de São Paulo/SP.


Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, 26 anos, baleado três vezes por agentes da polícia. Objeto da suspeita? Porte de guarda-chuvas, fato inusitado de um setembro chuvoso no Rio de Janeiro/RJ.


Gustavo dos Santos Amaral, 28 anos, não pôde chegar ao trabalho no dia 19 de abril de 2020, pois policiais militares confundiram seu celular com uma arma. Legítima defesa imaginária foi a tese que arquivou o caso. A imaginação fértil das balas parece ter uma predisposição a achar corpos pretos.


Herinaldo Vinicius Santana, 11 anos, também foi vítima da mesma imaginação fértil. Corria para comprar uma bola de pingue-pongue quando foi encontrado por um tiro de fuzil vindo da Polícia Pacificadora – nome de fazer inveja a qualquer distopia.


Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, ao que tudo indica, espancado e deixado morto em um açude, São Gabriel/RS.


Ágatha, João Pedro, Christian, e infindáveis nomes e histórias de uma lista macabra de barbárie, equívocos e omissões que não podem e nem devem mais ser tratados como casos isolados. Essa abordagem não apenas diminui a gravidade da situação como silencia as vítimas desse tipo de violência institucional recolocando em indivíduos específicos expurgos de culpa de um problema de raiz estrutural que remonta as marcas do nosso colonialismo.


Já é chegada a hora do sistema de justiça, setores da imprensa e sociedade civil como um todo assumirem um debate sério de reestruturação e desmilitarização de instituições tão marcadas pelas heranças coloniais e ditatoriais do nosso presente, mais ou menos recente.


Esse texto é um questionamento contra a barbárie que nos é imposta, mas principalmente de solidariedade às vítimas, aos familiares e amigos de Gabriel Marques Cavalheiro, e aos que se recusam a aceitar o absurdo como se fosse normal ou nas palavras do eterno Brecht “em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.

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